terça-feira, 10 de junho de 2008

A mídia e nosso emburrecimento

Palavras que perdem o sentido original, e por quê?

Assisti dois filmes bem depois que chegaram às locadoras. De um deles eu gostei, o outro achei ridículo, bizarro e extremamente apelativo. Vamos a eles:

Delicatessen, deste eu gostei e muito - num futuro indefinido e com escassez de alimentos, uma loja onde se vendem comidas raras, caras ou exóticas (estranhas, inusitadas ou nojentas, dependendo do gosto do freguês, mas geralmente apenas caras mesmo) o prato principal é a carne humana. Por incrível que pareça, vi uma incauta entrar numa delicatessen de verdade (que não oferece esta "iguaria") e dizer o quanto sentia nojo dos funcionários de lá.

Com certeza esta pobre falante do português brasileiro não conhecia o significado original da palavra antes de ter visto o filme e nem tinha capacidade suficiente para diferenciar a fantasia da realidade. Como já faz um bom tempo que isto aconteceu, ou ela já está devidamente internada por ter cometido outras loucuras do gênero, ou montou uma ONG para defender vítimas imaginárias de vilões imaginários, ou simplesmente esqueceu o ocorrido e continuou vivendo sua vidinha medíocre, insossa, burra e brega. Sendo bem prático, isto não me interessa! Ela acreditava em alguma coisa, pena que não fosse nada útil.

Outro ocorrido se refere ao "filme" O Albergue. Alguém que conheço e que estava ao meu lado quando passamos ao lado do albergue da juventude daqui de Brasília, e não ao lado de um albergue para mendigos, ou usando uma expressão mais politicamente correta, para os sem-teto, ficou extremamente indignado ao ver este hotel de baixo custo. Aí a coisa começou a fazer sentido para mim, o povo acaba conhecendo algumas palavras através dos títulos de filmes e associam o seu significado ao contexto do filme, e continuam ignorando seu significado original.

Não que tenhamos que decorar o Aurélio inteiro, o que além de não ser humanamente possível, mesmo que alguém consiga, não terá uma utilidade prática muito grande. Mas a questão é que pode-se criar uma fama ruim e infundada em estabelecimentos e lugares que não merecem tal fama, a mídia tem este poder e parece não perceber isto, ou pelo menos não se importar.

Imaginem filmes de terror chamados A Escola, A Igreja, O Hotel, O Clube, A Área de Piquenique. Como levar uma criança a um lugar destes depois que estas palavras entrarem no imaginário delas como lugares macabros e muito perigosos. Já bastam as notícias sobre pais que perdem realmente a paciência com as crianças.

A realidade nos vem cada vez mais através das telas da TV, do cinema e do computador do que da nossa experiência direta. Um filme precisa de um nome, um título, mas as coisas começam a se complicar quando estes títulos roubam o significado original das palavras, tomam o lugar dos dicionários e empobrecem ainda mais a alma do povo e a nossa língua que está se simplificando demais a cada dia que passa, onde cada palavra tem apenas um significado e cada coisa pode apenas ter um nome. Tenho medo que o sinônimo desapareça, pois assim eu não teria mais como fazer palavras-cruzadas.

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JáCotei
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