segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sentido único

As palavras tem poder, mas nem tanto assim!

Não, meus caros leitores, não vou falar de trânsito, cones, placas e guardas multando. O tema é o empobrecimento da língua portuguesa como é falada no Brasil.

Vamos a um exemplo corriqueiro: uma jovem senhora que ainda não contraiu núpcias ouve falar que um navio encalhou! Isto para ela não faz o menor sentido, afinal, barcos casam? Explicarei melhor abaixo.

Como nesta idade ela quase que ganhou o novo sobrenome de encalhada, e segundo regras não escritas da gramática do dito povão, cada palavra tem apenas um sentido e cada idéia tem apenas uma palavra que a torne real; se encalhada significa mulher já de certa idade que não conseguiu casar, todos os outros sentidos que a palavra tem não podem existir! Então o locutor do jornal só pode ser louco!

Incrível como a palavra "sexual" quando usada junto de outra palavra para formar uma locução, rapta, captura e mata todos os significados anteriores desta palavra!

Um exemplo interessante é a palavra opção. Eu simplesmente estava andando na rua e um indivíduo inclusive trajando roupas até não tão humildes me parou para mostrar um adesivo num carro! Na época, uma propaganda do tão não conhecido partido PT, também não tão odiado ou amado quanto hoje, muito menos com um presidente no poder. O sujeito ficou escandalizado porque PT estava dentro da palavra optei, e dentro da regra do sentido único, opção quer dizer opção sexual, ou seja homossexualidade! Como se só houvesse uma opção sexual!

O sujeito franzino e indignado queria quebrar o vidro traseiro do carro mas queria alguém por perto para justificar seu ato!

Se ele fez isto ou não, não faço a menor idéia nem me importo! O que me chocou foi perceber que ele entendeu a palavra opção (escolha) com um único sentido. E como refazer os conceitos do que quer dizer palavra e significado é impossível em quinze minutos e eu tinha coisas mais importantes a fazer na minha vida, ignorei o ocorrido!

Outra vez, uma adolescente (eu também era) me perguntou quase me provocando, "por que não existem mais cavalheiros?", eu respondi que a quantidade de damas era escassa! Pela expressão dela e por ter sumido quase que imediatamente, pelo que eu já sabia sobre a riqueza do vocabulário por aqui (claro que depois de muito pensar a respeito), percebi que dama para ela queria dizer "mulher dama" e não o feminino de cavalheiro (o sujeito galante e educado que trata as damas com respeito e estima, mas talvez não tão bem as mais pobres que ele).

A lista de palavras que não tem mais o sentido original, mas ganhou um conotação marginal, fantástica, proibida e ridícula é imensa. Fica quase impossível conversar com alguém sobre coisas comuns sem ofender ou provocar. Afinal, como falar sobre uma granja sem citar galinha, pinto e ovo?

A conotação tomou o lugar da denotação, tudo é palavrão, ofensa, imprecação!

Por enquanto fico só nisto, mas se quiserem uma lista grande  de palavras inocentes que viraram palavrões, basta pedirem!



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