sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O silêncio, nosso aliado!

Há alguns dias atrás li um artigo do Aldo Novak (infelizmente não consegui achar na Academia Novak) e além de concordar com ele quase que automaticamente, me veio à mente centenas de lembranças provando que as pessoas parecem mesmo adestradas (e insisto no adestramento que é bem mais difícil de modificar que a aprendizagem) a responder a qualquer questionamento da forma mais rápida e violenta possível. Cansei de ver pessoas se indignarem com apenas cinco palavras que eu disse sem ao menos pensar na possibilidade de eu estar usando de ironia ou mesmo sem esperar que eu terminasse a frase.

Aprendi com o tempo a deixar estas pessoas gastarem suas energias com os seus "argumentos" enquanto as observava friamente ou mesmo demonstrando com minha expressão que elas estavam totalmente equivocadas. Estas pessoas que pegaram o bonde errado e acabavam me deixando terminar a frase, e assim haver um diálogo, e o "di" desta palavra quer dizer dois, e não ficar num monólogo desesperado.

Infelizmente a grande maioria não era formada por pessoas pouco inteligentes ou com pouca cultura ou estudo. Os que mais veementemente defendem as suas idéias sem ao menos se dar ao luxo de ouvir o outro tem a dizer dão a impressão que vivem num mundo já todo pesado, medido, indexado e devidamente previsível. São pessoas que não acham que vão ouvir nada novo ou nada que as surpreenda. São em outras palavras, pessoas preconceituosas. Não com relação a cor da pele, sexo, religião ou qualquer outra coisa que diferencie duas pessoas quaisquer de uma forma bem objetiva. São preconceituosas quanto à capacidade dos outros de raciocinar e falar sobre algo que ainda não ouviram tanto na forma quanto no conteúdo.

O artigo do Aldo Novak fala de respostas específicas a questionamentos também bem específicos. Como por exemplo, o que fazer ao levar uma bronca do chefe, merecida ou não, uma resposta seca e crua só piora a própria situação, como uma desculpa qualquer ao invés de falar a verdade ou simplesmente se calar.

Mas uma coisa que realmente tem me irritado em boa parte das pessoas que vejo discutirem, e geralmente sem motivo algum, é essa imensa pressa em se defender sem ao menos saber se realmente está sofrendo algum tipo de ataque real.

Muitas pessoas parecem viver em algum tipo de Quiz eterno, um jogo de perguntas e respostas, onde jamais poderão deixar de dar sua opinião a respeito de qualquer assunto possível. Transformam qualquer papo ameno numa tortura infinita para os que têm que ouvir centenas de argumentos, muitas vezes claramente inventados ou alterados para parecerem mais convincentes.

Conheço muita gente assim, que não pode ficar sem dizer a última palavra. Infelizmente acho que a maior parte da humanidade se tornou assim. Como se dizer "não sei" ou "não me interessa" fosse uma prova definitiva de incapacidade, seja em que área for. O que é uma pena realmente!

Conheci um sujeito que queria provas absolutas e definitivas de tudo o que eu falasse, se eu dissesse que vi uma notícia na TV ele queria saber o canal, o dia e o horário, como se alguém fosse atendê-lo na emissora e mostrar a fita onde estava gravada o programa de entrevistas, telejornal ou documentário onde vi a tal notícia. Algum tempo depois fiquei sabendo que o tal sujeito tinha problemas mentais mesmo, o que o torna exceção (palavrinha difícil de lembrar a grafia, mas cola internetês para facilitar) e não regra.

Mas muita gente saudável exercita este irritante jogo de gato e rato o tempo todo, com isto acabam levando outros a agirem da mesma forma. Lamentável, mas quem daria o primeiro passo pra diminuir esta nossa poluição sonora?

Só sei que o mundo seria mais agradável se as pessoas respondessem simplesmente usando um "sim", "não", "não sei", "não acho que seja assim", "talvez", "não sabia", "nunca pensei a respeito disto" e outras frases simples ao invés de discursos intermináveis para garantir sua superioridade em sabe-se lá o quê? Talvez em tudo!

Entre os anos oitenta e noventa (não tenho como garantir a época, faz muito tempo mesmo!) tinha um programa de rádio (acho que da Transamérica) onde perguntavam sobre notícias absurdas e as pessoas geralmente falavam que tinham ouvido a notícia para não parecerem desinformadas. Me lembro particularmente de duas pérolas que quase todos alegavam ter ouvido falar:

"Foi encontrado um ovo de hipopótamo na praia de Copacabana por um argentino, com quem deve ficar o ovo, com o Brasil ou com a Argentina?"

e também

"Há planos de se fazer um canal para ligar Brasília ao mar, o que você acha disto, é uma coisa positiva ou é gastar dinheiro público à toa?".

As pessoas respondiam com uma seriedade que passava e muito do ridículo, levando-se em conta que hipopótamos são mamíferos não ovíparos, apesar de existirem espécies de mamíferos que põem ovos (ornitorrinco por exemplo) e que Brasília está a uns 1400 metros acima do nível do mar, estas notícias eram completamente absurdas e não tinham a menor chance de terem sido escritas em jornais ou serem exibidas em emissoras de TV, onde pelo menos uma minoria não tivesse acompanhado alguns vídeos do Telecurso 2º grau, chega a ser chocante que quase 100% dos entrevistados admitia ter visto ou ouvido tais notícias. Lembrando que não se pode ser jornalista há um bom tempo sem ter curso superior completo.

Fica então a dica de termos senso crítico e não acreditarmos em tudo o que lemos ou vemos por aí, a própria Internet despeja uma cura milagrosa do câncer por semana que as "maldosas indústrias farmacêuticas" insistem em abafar. O problema todo é que no dia que divulgarem uma cura real ninguém mais acreditará, nem as indústrias farmacêuticas procurarão lucrar com as novas drogas, o que seria até justo para garantir a qualidade dos produtos que consumimos.

Outra coisa muito interessante é não atacar nosso semelhante quando ele apenas está querendo nos fazer rir ou simplesmente se expressou mal. O português é uma língua complexa e quanto mais o internetês avançar menos entenderemos o português. Não vamos ajudar a matar uma língua tão bonita, não digo linda, mas bem arrumadinha e muito, mas muito mesmo, interessante.


Nenhum comentário:

Google Analytics

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

wibiya widget