quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O pré-adolescente e a TV ou o senhor Bordão

As segundas-feiras eram meus piores dias no colégio na época em que eu era um pré-adolescente como todos os outros que frequentavam a escola. Era o dia em que um bando de completos desconhecidos, que acreditavam firmemente serem as únicas crianças do planeta que tinham TV em casa, saíam à caça de alguém para aplicar as pegadinhas “que só elas conheciam” e tinham visto no programa Os Trapalhões [1] durante a noite anterior. Tempo suficiente para seus inábeis cérebros ainda lembrarem como aplicar o golpe de esperteza!

O famoso “olha pro meu pé mexendo”, seguido de uma bofetada na cara era quase que como um “bom dia!”. Esta “piada” era ensinada repetidamente com um certo intervalo que garantia o esquecimento por parte dos espertos ou de suas vítimas.

Sendo assim, eu assistia este programa mais para evitar inconvenientes do que por gostar ou admirar o seu conteúdo.

Os anos passaram (poucos, diga-se de passagem) e os esquetes [2] foram substituídos por piadas. O único problema era que as piadas só eram inéditas por alguns momentos, se alastravam tão rápido quanto um incêndio. Mas estes agora quase adolescentes a repetiam quase que infinitamente. Abordavam um grupo aleatoriamente e disparavam a contar a pérola tão pouco conhecida naquele momento quanto andar para frente ou enxergar com os olhos abertos. Ninguém ria, ninguém sangrava ou devolvia a “gentileza”, apenas se olhavam perplexos, ignoravam e continuavam o caminho.

Nenhum destes ex-futuros comediantes se suicidou por causa disto, pelo menos é o que acredito. A maioria se ajustou e não acredita que o mundo real não é um mero anexo da telinha e tem uma vida normal, apesar de alguns continuarem sendo mimimi [3]. Mas uma minoria bem irritante continua sendo o sr. ou mesmo a sra. Bordão [4]. Sim queridos leitores, aquelas pessoas que nunca nos deixam terminar de falar qualquer coisa que seja, para nos brindar falando algo que só tem graça nos programas humorísticos da TV.

Trabalhei inclusive com um sujeito que chegava a ser compulsivo [5] e citava além de tudo o que todo mundo conhecia, por estar passando na TV, filmes dos anos 80 e 90 que fizeram grande sucesso e aquelas propagandas que não saiam da cabeça das pessoas.

Outro que quase me fez sair do sério foi um conhecido que estava me relatando problemas e eu para tentar confortá-lo disse que tudo na vida é passageiro... Eis o meu erro! Como ele é dos tais que perdem o amigo mas não perde a piada, me respondeu: “menos o motorista e o cobrador...”. Tudo bem! Ele perdeu o amigo!

Esta postagem faz parte da série amizades estranhas que eu tentei começar, não acabei e a terminei por abandonar. Outras postagens foram Minha contribuição atrasada para o dia do amigo [6] e Não dê carona no carro alheio [7]. Gente estranha é o que não falta no mundo e amizade é algo tão indefinido que os mimimi tentam explicar transformando quase que num casamento feliz.

Humor, TV, cinema, bons comerciais e música, incluindo a brega, são o chamamos de mundo, cultura ou universo POP [8] que descreve geralmente muito bem a época em que vivemos e é bem saudável conhecê-lo. O problema começa quando substituímos a nossa vida pessoal por este mundo bem artificial, diga-se de passagem.

[1] https://secure.wikimedia.org/wikipedia/pt/wiki/Os_Trapalh%C3%B5es
[2] https://secure.wikimedia.org/wikipedia/pt/wiki/Esquete
[3] http://paginadoaguinaldo.blogspot.com/2010/08/gente-mimimi.html
[4] https://secure.wikimedia.org/wikipedia/pt/wiki/Bord%C3%A3o
[5] https://secure.wikimedia.org/wikipedia/pt/wiki/Transtorno_obsessivo-compulsivo
[6] http://paginadoaguinaldo.blogspot.com/2009/07/minha-contribuicao-atrasada-para-o-dia.html
[7] http://paginadoaguinaldo.blogspot.com/2009/07/nao-de-carona-no-carro-alheio.html
[8] https://secure.wikimedia.org/wikipedia/pt/wiki/Cultura_pop

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